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Kaio Cézar. Foto extraída da internet do site TV Foco |
O aracatiense Kaio César lançou nota esclarecendo sobre as razões que levaram a pedir demissão do Sistema Verdes Mares (SVM) que é afiliada a Rede Globo de televisão. Kaio foi trabalhar na capital cearense aos 17 anos e é filho do radialista Luiz Bilal que, atualmente está no ramo de cafeteria e tapiocaria, um
empreendimento familiar que já conta com uma grande clientela.
A NOTA
Pela repercussão do caso e número de mensagens que
venho recebendo, ao passo que agradeço todo o apoio, esclareço aqui meus
motivos para pedir demissão ao vivo do Sistema Verdes Mares.
Sobre qualidade e defeito, um dia me disseram que
há cargos cujos profissionais, para ocupá-los, precisam ter os dois,
especialmente o segundo. Uma espécie de código real e não oficial, situado nas
camadas baixas da honra e envolvido por conceitos tanto arrogantes quanto
ultrapassados: “diz-me teus defeitos que eu fabricarei tuas qualidades”. Talvez
seja tarde, mas hoje digo sob absoluta convicção que o que ouvi não era um
pensamento vão, mas realidade comum e incontestável.
Em quase onze anos de empresa – cheguei aos 17 de
idade – cometi, lógico, muitos erros. Todos, no entanto, no âmbito
profissional, ainda assim julgo ter passado bem, sem qualquer falta grave.
Nunca um erro de ordem ética, no sentido de diminuir algum colega enquanto
pessoa, por exemplo, ou assediá-lo moralmente. É só ir atrás e você vai ver que
mantive minha linha, com retidão. Jamais ofendi a honra pessoal muito menos a família
de alguém no meio de uma redação, outro exemplo.
Fizeram isso comigo. E fizeram mais.
Darei apenas um nome, uma vez que os outros, de
cargos menos elevados, cometeram falhas, acredito, mais por ter a proteção dele
do que por maldade, simplesmente. E quanto a esses outros, já tratei dos
problemas pessoalmente, então caso resolvido. Mas, quanto ao hoje diretor Paulo
César Norões, eu preciso não me calar e encarar qualquer consequência e até
retaliação. Me apunhalou por muito tempo.
Arrogante, ele nunca soube lidar com quem pensa
diferente, principalmente os que julga inferiores. E eu, por ter raízes,
convicções – políticas e esportivas – e personalidade extremamente opostas
nunca fui respeitosamente aceito por ele. Lembro-me que um dia, no meio de uma
reunião do esporte, quando era nosso editor-chefe, mandou-me “tomar no cú” por
ter discordado dele. Curioso é que pouco antes, quando eu ainda estava na TV
Diário, outra emissora do SVM, ele havia tentado me barrar da cobertura da Copa
das Confederações sob a alegação de que eu era “tímido demais”, nas palavras do
diretor Roberto Moreira, diretor da TV Diário.
Roberto Moreira, aliás, apesar de amigo pessoal do
PC, sempre foi muito correto comigo. Foi ele quem me abriu as portas dentro da
empresa, me defendeu e me deu grandes oportunidades. Até quando tomou alguma
atitude que me prejudicasse, procurou agir com decência e lealdade. Devo a ele
gratidão e respeito. Espero que seja sempre assim.
Pois bem, depois da Copa das Confederações, com a
ida de Antero Neto para o Rio de Janeiro, surgiu uma vaga na TV Verdes Mares. O
próprio Roberto Moreira me chamou e, por três vezes, insistiu para que eu fosse
conversar com PC a fim de ganhar uma oportunidade na principal emissora do
estado – a esta hora PC já tinha achado um substituto em Fábio Pizzato, que
passou a narrar os jogos. Eu relutei porque imaginava que ele, Roberto,
estivesse me testando. Só após o quarto pedido tomei coragem de me dirigir ao
PC, que disse não ter vaga. Ocorre que, quando Roberto soube da resposta,
imediatamente entrou em contato com o diretor da TV Verdes Mares, Marcos Gomide
e, poucos dias depois, eu estava ocupando a tal da vaga, já existente.
O tempo foi passando e os movimentos estranhos
continuaram. Outra vez foi no Bom Dia Ceará, onde eu era o substituto do Marcos
Montenegro. Quando estavam preparando a saída do Marcos para o CETV2, veio a
informação de que outro profissional, então estagiário, ocuparia o lugar.
Curioso é que, poucos meses antes, a Lianne Quezado, editora-chefe do Bom dia e
uma das pessoas mais profissionais e corretas que conheço, tinha me falado
sobre muitos elogios feitos à minha desenvoltura dentro do telejornal por uma
equipe da Globo, que comumente vai às afiliadas avaliar o padrão jornalístico.
Não fiquei calado e disse diretamente ao PC que aquela atitude era uma
“sacanagem” comigo. Foi aí que o diretor Marcos Gomide interferiu e me
confirmou no bloco de esportes do Bom Dia, dizendo, segundo me afirmou Fábio
Pizzato, a seguinte frase: “Kaio é um talento que a gente não está
aproveitando”.
Mesmo pouco depois saindo da editoria de esportes
para ser um dos diretores do SVM, PC continuou interferindo nos assuntos do
esporte dentro do grupo. E um dos projetos desenvolvidos logo após ele assumir
o cargo que era do pai, Edilmar Norões - saudoso e de respeitosa memória - foi
o projeto dos “Craques da Verdinha”, sob coordenação de Antero Neto e sob o
rótulo da renovação. Para minha surpresa, mesmo tendo inclusive entregado um
projeto – até os jingles da equipe são com minha letra, umas em parceria com
Antero Neto - do qual muitas ideias foram aproveitadas e já sendo narrador da
Rádio Verdes Mares desde 2008, fiquei inicialmente de fora. Só entrei depois da
desistência de Bosco Farias, ainda assim, só para constar, com um dos menores,
se não o menor salário da equipe. E tudo isso eu vinha denunciando.
Ainda em relação à rádio, num evento mais recente,
durante a Copa da Rússia, Antero Neto, meu amigo e conterrâneo, teve uma
atitude digna. Vendo que eu não estava narrando nenhum jogo do Brasil, me
sugeriu narrar o último da primeira fase, único até então garantido de
acontecer na capital russa, onde eu estava baseado. Para minha surpresa, ato
contínuo do Antero: “Mas o PC não deixa. Embora eu não concorde, ele disse para
eu narrar todos os jogos do Brasil e que eu sou o sucessor do Gomes Farias. ”Daí
eu indaguei, só por indignação: por que narramos juntos os jogos do Brasil na
Copa América de 2011? E porque ele vem me elogiando tanto no grupo em meio a
tantos diretores? Dissimulação? Fiquei sem resposta e continuei, com a força da
gratidão, narrando os outros jogos.
Tudo isso foi ocorrendo em combinação com outros
acontecimentos, que não posso reputá-los todos ao PC Norões, mas, por tudo isso
que já relatei, seria natural pelo menos desconfiar que alguns tenham
interferência dele.
Para me ater apenas ao que se refere à narração
esportiva, inicialmente me tiraram dos jogos do Premiere Futebol Clube, onde
narrei, se não me falha a memória, quatro jogos em três anos e depois de muita
briga, mesmo sendo o titular da afiliada da Globo no Ceará. Depois, me tiraram
da rádio, alegando, pasmem, que minha saída era para que eu pudesse me dedicar
aos jogos do PFC, sendo que depois voltei pro rádio para tapar buracos e sem o
salário que eu lá recebia. Por último, fui perdendo espaço também nas
transmissões da TV Verdes Mares. O motivo? Tive que folgar
obrigatoriamente dois domingos no mês. Apesar de absurdo do ponto de vista da
rotina jornalística - muito mais do esporte, que trabalha essencialmente às
quartas e domingos - tudo bem. Se é uma norma da empresa em acordo com o
Ministério do Trabalho, o jeito é acatar. Mas, por que há contratos diferentes
que não exigem isso? Mais uma vez fiquei sem resposta.
Por último, deixei para relatar o mais grave, que
foge sobremaneira da esfera profissional. Em meio a tantos fatos que configuram
perseguição, certa vez PC Norões se dirigiu à mim e proferiu ofensas à minha
família que não as repito aqui porque tenho dois filhos, entre eles uma
enteada, e poderia expor pessoas que não tem nada a ver com a história. Só
adianto uma coisa, não tem nada a ver com traição da minha mulher, como
inventaram de ontem pra hoje. E foi assim que pouco a pouco me escantearam, sem
qualquer pudor ou respeito por mim, um profissional que se dedica há tanto
tempo à mesma empresa, e que foi avaliado como sendo de “bom caráter” ao ser
promovido de uma emissora a outra dentro do SVM.
Sobre as imagens que ilustram esta postagem, são
números do futebol da TV Verdes Mares, especialmente dos primeiros meses do
ano, quando entramos no ar com maior frequência. Considerando todas as
transmissões das afiliadas da Globo no Brasil, a Verdes Mares foi a que mais
cresceu em 2018. E isso foi mostrado num evento da própria Globo, em São Paulo.
Motivo de orgulho!
Agora vejam e reparem nos meus números e tirem suas
conclusões. Não quero dizer, com isso, que sou melhor ou pior - não é essa
minha indignação. Quero apenas constatar que as pessoas aprovaram meu trabalho,
que foi construído ao longo de, ao todo, 15 temporadas da minha vida. Hoje sou
um narrador de rádio e TV que, aos 28 anos, tem 3 Copas do Mundo, 2 Copas
América e 1 Copa das Confederações, currículo raríssimo no Brasil para alguém
da minha idade.
Recentemente, diante de todos esses problemas, cheguei
a pedir minhas contas ao Marcos Gomide, diretor da TV Verdes Mares. Ele me
pediu paciência e a única coisa que aconteceu foi aumentar o salário por um
lado e tirar as horas extras por outro. Ou seja, ficou na mesma.
Fora dos jogos do PFC, passei a não receber mais
cachês – que, por sinal, já avisaram que não serão mais pagos aos profissionais
que trabalharem neste ano; fora da rádio, meu salário foi reduzido em quase 3
mil reais, sem falar no corte das horas extras. Quanto ao desgaste emocional,
as pressões me deixaram no chão. Na Rússia, encarei uma crise emocional tão
dura que, por Deus e pelas pessoas que amo, reconsiderei fazer o pior.
Apesar de tudo, preciso agradecer. Sou
profundamente grato ao Sistema Verdes Mares pelas oportunidades que tive,
embora nos últimos anos, o diretor citado tenha insistido em me
tirar do páreo. Aproveito e pontuo aqui minha gratidão à outra pessoa, o mestre
Tom Barros, que sempre esteve à minha disposição. Da mesma forma, faço saudações
a todos os colegas do SVM e de outras empresas que, de alguma forma tenham me
ajudado e que podem estar passando por algo parecido. A Mirela Forte, minha
esposa, por exemplo, foi demitida um mês depois de voltar de licença
maternidade, recebendo a notícia de que voltaria em breve. Alguns meses depois,
foi decidido que não iriam mais contratar cônjuges de funcionários.
Disto isso, diante do paradoxo dos resultados que
apresentei com meu trabalho enquanto narrador esportivo – minha principal
função e motivo pelo qual me dedico ao jornalismo - e os problemas que
enfrentei nos bastidores durante esses anos, humilde e despretensiosamente
chego a uma conclusão: as qualidades necessárias para narrar no Sistema Verdes
Mares eu possuo, mas os defeitos ideais para me manter no cargo, estes me
faltam.
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